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TEXTO

PERGUNTA INFAMILIAR

“De vez em quando, escrevia para o exterior, quando esse exterior me submergia, quando aconteciam coisas que me deixavam louca, outside, – ou quando não tinha nada melhor para fazer. Acontecia.”

Para Marguerite Duras, a história de sua vida não existe. “Jamais tem um centro. Nem caminho, nem trilha.” É em torno dessa região ainda não explorada, chamada por Duras de “sombra interna”, que sua escrita acontece. Nesse terreno de experimentação, Duras aproxima o feminino da escrita.

Esse espaço paradoxal, entre centro e ausência, relaciona-se à vacilação da identidade do sujeito consigo mesmo ao revelar o que é mais íntimo e familiar a ele como um ponto de absoluta opacidade que, de tão estranho, se faz exterior.

Diante do que a experiência psicanalítica não cessa de se confrontar, e do esforço dos poetas em decifrar aquilo do gozo feminino que permanecerá refratário ao sentido, perguntamo-nos sobre o que há de infamiliar no feminino: o que os conjuga e o que os distingue?

A devastação sempre se colocou para mim como uma questão, e é com ela que entro no XXIII Encontro Brasileiro. Se a devastação tem a ver com o ilimitado, qual é a relação entre o gozo feminino e a devastação? Como conduzir um tratamento de um sujeito que se apresenta devastado, terra arrasada, indizível?

Seguindo Marie-Hélène Brousse no texto Uma dificuldade na análise das mulheres1, a devastação está ligada à troca fálica impossível, algo na mãe escapou à lei simbólica ficando um resto que não está submetido ao falo.

Se, como consta no Eixo 2 do argumento do Encontro, “Lacan fez do gozo feminino uma generalização por sua natureza irrepresentável, indizível e ilimitada. Um gozo irredutível, que escapa e não todo se enquadra à lógica fálica…”, podemos pensar que a devastação seria outro nome para o gozo feminino?

1 BROUSSE, Marie-Hélène. Uma dificuldade na análise das mulheres: a devastação da relação com a mãe. Ornicar? De Jacques Lacan a Lewis Carroll. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004. p. 57-67.

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