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TEXTO

PERGUNTA INFAMILIAR

Interessa-me problematizar as declinações possíveis do feminino.  

Acompanho Lacan que, seguindo o trabalho de interpretação de Freud, destacou pela via da lógica, no campo da fala e da linguagem, o que pode ser representado pela rede significante e o não representável, indizível, o que há de mais real. Real contingente, decorrente do impacto originário do corpo com a linguagem – corpo do falasser marcado por um dizer que produz gozo.  

No S.XX, Lacan vai deter-se na lógica das proposições, que se articulam em fórmulas e quantificadores, e situa o núcleo não representável, gozo forclusivo, fora da castração, unheimlich, que itera sem cessar do lado feminino.  

Como contorná-lo? Que dizer pode ser operatório? Será uma questão de escolha sempre contingente? Um achado?

Seria de fato possível estabelecer uma relação entre o inquietante singular do Gozo Feminino, ligado ao real do corpo, e o estranho Infamiliar, ligado ao recalque e ao Édipo?

Sobre o conceito lacaniano de gozo feminino o abordamos como suportando um gozo suplementar do qual nada se pode falar, um fato de estrutura, acontecimento de corpo, fora da maquinaria do Édipo. Gozo do corpo como real, que precede a palavra e que se apresenta de forma ilimitada. Vivemos na carne esse mundo pós-Édipo: cada um sozinho com seu gozo e sob o comando do mestre contemporâneo: Goza! Resta-nos interrogar:

Qual a posição do analista nesta época dos uns sozinhos e dessa solidão radical do gozar não mais atrelado ao simbólico e ao imaginário?

Quais as consequências clínicas advêm da queda dos semblantes, que desnuda o aparecimento desse gozo opaco, sem nome, circunscrito no ensino de Lacan como gozo feminino e generalizado como o regime de gozo como tal?

“Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe.”
(João Guimarães Rosa, GSV)  

No argumento do Eixo 2, diz-se que o gozo como tal é feminino, mas não é coisa de mulher – nem de homem. Podemos dizer que é coisa do experimentar, excessos e silêncios. Ressoa, para mim, o silêncio infinito do sertão de Rosa, em GSV, que tomo, em algumas passagens, como uma experiência de gozo. “Sertão, esses seus silêncios.” “O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais.” “De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem.” Vem, mas vem “sem portas nem janelas”. Então, como ir e voltar dele – e com ele? Lacan propõe o sinthoma como algo que nos permite ir e vir com os infinitos dos rincões do corpo nos fazeres da vida. Uma “tecnologia”, como se usa dizer hoje, cuja invenção se faz possível ao final de uma trabalhosa travessia pelo ser-tão – travessia que exige deixar-se cair, aos nacos. Como o sinthoma tem servido aos analistas em seu fazer cotidiano, clínico e político?. 

Para dirigir minhas questões ao XXIII EBCF, retomo o caminho de Freud ao abordar o infamiliar através da ficção. O personagem-narrador do romance “A uruguaia”, do argentino Pedro Mairal, tem um esperado encontro com uma jovem mulher. Mas nada fica no lugar fantasiado por ele, pois os semblantes do feminino abrem o caminho para o desencontro, para a não relação sexual, mas também para os questionamentos que o personagem faz sobre si, sobre seus desejos. Minha pergunta se articula a partir afirmação de Lacan que “para o homem, a mulher é precisamente a hora da verdadei”. A hora da verdade para um homem pode ser lida a partir do infamiliar feminino? O infamiliar feminino se articula a um o gozo que não se rende aos semblantes da mulher? No caso do romance, esse encontro/desencontro com a mulher conduz o personagem a sua hora da verdade e à possibilidade de um mais além das fantasias amarradas à significação fálica. 

EVENTOS DA REDE DO CAMPO FREUDIANO

Caros colegas,

É com muito entusiasmo que repassamos a todos vocês os cartazes dos Eventos das Redes do Campo Freudiano (NRCEREDA- Centro de Estudos e Investigação da criança no Discurso analítico / CIEN – Centro interdisciplinar de Estudos sobre a criança e TyA – Rede Toxicomania e Alcoolismo do Campo Freudiano). Como podem observar, eles anunciam a importância da discussão de temas candentes da nossa atualidade! Apostamos num rico debate e, para isso, a sua presença é fundamental! Se ainda não fez a sua inscrição, corre lá que ainda dá tempo! 

Fiquem atentos aos horários pois o Encontro da NRCEREDA e do CIEN acontecerão de forma conjunta.

VII Conversação do CIEN-Brasil
“Zonas de fratura: diferença, corpos e saberes” 

11 de março de 2021 – em formato virtual
Horário: 16h15 às 18h15
Coordenação: Comissão de orientação do CIEN-Brasil Flávia Cêra (Coord. Geral), Marícia Ciscato, Renata Soares, Virgínia Carvalho
Informações: brasil.cien@gmail.com

VI Encontro dos Núcleos da NRCereda no Brasil
“Os Impasses do sexual e os arranjos da sexuação” 

11 de março de 2021 – em formato virtual
Horário: 14h às 16h: Mesa NRCereda
16h15 às 18h15: Mesa NRCereda e Cien
Coordenação: Nohemí Brown
Informações: novaredeceredanobrasil@gmail.com
Núcleos da NRC: Biloquê (GO) – Carrossel (BA) – Ciranda (SP) – Curumim (RJ) – Daí Guri (PR) – Pandorga (SC) – Pastoril (PE) – Pererê (MG) -Telengo Tengo (RN) – Uni Duni Tê (PB)

IV Encontro TyA Brasil – Rede Toxicomania e Alcoolismo do Campo Freudiano
“O que diz o indizível do toxicômano na era das adições generalizadas”

Data: 11/03/2021 – em formato virtual
Horário: 18h às 21h30
Valor: 40,00
Coordenação: Maria Wilma Faria
Informações: mwilma62@gmail.com
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