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TEXTO DE ORIENTAÇÃO

TEXTO 

PERGUNTA INFAMILIAR

O tema deste nosso próximo Encontro Brasileiro me traz uma pergunta sobre o abuso sexual nas adolescentes, tendo em vista a frequência atual em que usam este termo nas sessões de análise.

Se o primeiro tempo lógico do trauma se refere ao encontro com lalíngua e deixa um resto que não cabe em palavras, o segundo não é necessariamente traumático, pois nem todo encontro com o sexo é experimentado assim, como mostra a Lolita de Vladimir Nabokov. O consentimento não se refere somente ao outro que tocou o corpo, mas ao gozo próprio que estava velado e irrompeu.

Assim, podemos dizer que a expressão “abuso sexual” se tornou um significante do discurso feminista que as jovens, numa identificação horizontal, usam como defesa contra o encontro com o gozo enquanto tal, feminino, infamiliar, e não, necessariamente, ao jovem do encontro sexual?

Compartilho uma questão que me acompanhou na caminhada, em direção ao XXIII Encontro Nacional.

Para configurá-la recorto do seminário “…Ou pior” , onde Lacan em sua primeira aula, acentua a grande relevância do lugar vazio. Esse vazio se constitui condição de linguagem, para todos os seres falantes. A linguagem, porém, não opera igualmente entre os conjuntos Homem e Mulher, na produção de bordas e delimitação do furo.

Para aqueles situados na posição feminina não-toda, a linguagem fracassa diante do real impossível de dizer, de um gozo sem limite.

Pergunta-se: Tal posição ao situar, assim, o ser falante resultaria de uma escolha feita em algum ponto crucial de sua subjetivação, insondável decisão do ser, ou dependeria de um alheio destino trançado pelas Moiras?