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TEXTO DE ORIENTAÇÃO
PERGUNTA INFAMILIAR
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“O que ousarei inscrever do outro lado, deixando-me levar pela lógica do ilimitado? Diante da prudência, colocarei a intrepidez, a tagarelice das “passionárias” – nunca se falou do passionário. Nesse lugar onde há a timidez, por essa lógica, eu colocarei a ousadia, por exemplo. Onde eu tinha a proteção, eu colocarei o risco. E depois, onde eu tinha a agressividade imaginária, que é a relação com o pequeno outro como semelhante, eu colocarei, de bom grado, na frente, a mística, que é, justamente, a relação com o grande Outro do amor. Tudo isso compondo uma bela irracionalidade” (p. 14).
“Podemos pensar que a mulher – em todo caso, a mulher freudiana – se regula sobre o homem quanto ao ideal, mas que, quanto ao gozo, ela se regula sobre uma bússola que sempre está presente e sempre orientada para as satisfações elementares […]O que eu enumero, o que agrupo, são os traços que caminham no mesmo sentido, no sentido da “mulher-bússola”, da mulher direcionada, e que encarna uma certa constância em relação à qual o homem está sempre à deriva, levado por quimeras. A mulher, aqui, é o sujeito sem quimeras, mesmo se, na descrição de Freud, ela é um “pouco rasteira”, ao nível do que eu chamava de satisfações elementares” (p. 25-26).
Referência: Miller, J.-A. “Uma Partilha sexual”. Opção Lacaniana online nova série. Ano 7, n.20, julho-2016. Disponível em: http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_20/Uma_partilha_sexual.pdf
“De maneira surpreendente – em contraponto com as certezas próprias do transexualismo ou as dúvidas dos intersexos – aparece hoje outro campo, uma problemática nova, a do “gênero fluído”. Esse campo, pelo contrário, dá prioridade à exploração e à dúvida no que diz respeito à maneira de se situar em relação à diferença dos sexos […] Seguindo a tendência contemporânea ao relativismo, hoje tudo seria possível entre o masculino e o feminino. Seria necessário não fixar nada na educação dos meninos. Chegamos aos tempos do que se chama o gênero fluído, assim como existe o amor líquido?” (p. 4).
“A psicanálise não diz o que é preciso fazer: só pode oferecer referências para entender a singularidade do que está em jogo para cada sujeito. […] podemos dizer com certeza o que é um homem ou uma mulher?
A psicanálise nos mostra que não é tão fácil – inclusive que é completamente impossível! E talvez seja o motivo pelo qual se recorra aos ideais do sexo prêt-à-porter que vêm dissimular essa definição impossível. Não existe uma referência essencialista da identidade masculina ou feminina. Aí, talvez, se coloque um ponto de encontro entre os psicanalistas e os construtivistas. A identidade é uma construção, um processo identitário que culmina na construção de algo que é singular em cada caso: não visa tanto alcançar um gênero estandardizado, mas sim uma organização subjetiva do gênero. Não obstante, aquilo que se torna particular nessa organização é o fato de passar por uma modificação concreta do corpo, tanto hormonal quanto cirúrgica” (p. 8).
Referência: Ansermet, François. “Eleger o próprio sexo: usos contemporâneos da diferença sexual”. Opção lacaniana on-line. Nova série. N. 25/26. ano IX. Julho 2018. Disponível em: http://www.opcaolacaniana.com.br/texto7.html
“El psicoanálisis investiga las diferencias que hombres y mujeres tienen en su modo de hacer lazo con otros y funcionar en sociedad: de trabajar, ocupar puestos directivos, estudiar, relacionarse con colegas, superiores, subordinados, con la familia, la política, los lazos afectivos, etcétera.
Diferenciando el género –modificable según identificaciones sociales–, de la sexuación –modos de goce y sus consecuencias–, el psicoanálisis investiga cómo el acceso de las mujeres a los medios de producción modifica lo que antes tenía una característica patriarcal. Miller lo llamó “feminización del mundo”: implica que otro modo de goce modifica lo social” (s/p).
“[…] la caída del padre no implica un avance de las mujeres, sino una mayor homogeneización, un borramiento de la diferencia de modos de goce. Esto no deja lugar a lo femenino, sino que la lleva, o bien a identificarse a lo masculino, o bien a rigidizar su posición en lo que Lacan llamó un “orden de hierro”.
Lo femenino, en la medida en que su Otro goce no está determinado por las tradiciones e ideales que implican el goce fálico, tiene consecuencias psicológicas propias que el psicoanálisis investiga” (s/p).