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TEXTO

Cristiane Barreto e Fabíola Ramon comentam o fragmento do livro A paixão segundo GH, de Clarice Lispector: Eu tenho à medida que designo — este é o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. A realidade é a matéria prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la — e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas — volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu.

ENTRELETRAS

PERGUNTA INFAMILIAR

A pergunta que levarei ao XXIII EBCF se dirige ao que está em jogo nos atos de violência exercidos contra as mulheres. A atual feminização do mundo, entendida como uma menor aptidão para a sublimação pulsional, poderia nos fornecer as pistas para o aumento dos chamados “racismos do gozo do outro”? A violência como recusa ao diferente atesta um gozo de que nada se quer saber, que insiste na relação ao outro feminino e nas diversas formas de segregação. A que(m) se busca exterminar no feminicídio? Lacan fez corresponder o gozo feminino ao gozo como tal, alteridade absoluta. Decorreria da associação desse Outro gozo às mulheres (“por gozar diferente” ou “porque encontra longe de mim o seu gozo”) o ódio que preside aos atos de feminicídio?